24 de setembro de 2012

Entrevista com Lula Marques

Já somam 35 anos desde que Lula Marques ingressou como contínuo no Correio Braziliense, ainda aos 14 anos. Nessa caminhada, foram várias etapas e "promoções" profissionais dentro do mundo do fotojornalismo. Com um trabalho maduro e reconhecido, principalmente no cenário das coberturas políticas, Lula Marques é hoje o coordenador de fotografia da sucursal da Folha de S. Paulo, em Brasília. Como 7º convidado do projeto Imagem sem Fronteiras, o fotógrafo lança exposição na próxima sexta-feira, dia 28 de setembro, às 21h. Antes disso, nessa entrevista elecomenta sobre os capítulos que escreveu e registrou com a câmera na mão. 

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1. Conta um pouco sobre sua trajetória no fotojornalismo.  

Minha escola foi o dia a dia do jornal. Sempre me preocupei em aprender como era feito cada etapa e tive como escola o Correio Braziliense. Comecei a fotografar anos depois da morte do meu irmão Paulo Marques, que era editor de fotografia do Correio. Ainda nos anos 80, fui convidado por Tadashi Nakagomi, que tinha assumido o lugar do meu irmão. Aprendi a essência revelando e observando o estilo de cada fotógrafo. Fazia cobertura em todas as áreas. Depois de um tempo fotografando para as editoras de Cidades, Polícia e Shows, passei para a cobertura política, onde achei a minha praia. Anos depois, meu amigo Tadashi Nakacomi, que trabalhava na Folha de S. Paulo, veio a falecer em um acidente de carro e eu fui convidado para o lugar dele pelo fotógrafo Moreira Mariz. Trabalho desde 1987 na Folha e há 18 anos estou na coordenação da fotografia da sucursal de Brasília. 


2. Como é para você fotografar o cenário político e não envolver suas próprias convicções e ideais. Ou é inevitável envolvê-los? 

Primeiro, temos sangue correndo na veia e temos todos os tipos de sentimentos. Choramos atrás da câmera, temos ódio de certos políticos, principalmente com a arrogância e cara de pau pelas mentiras, mas também comemoramos muito quando podemos desmascarar com uma boa foto quem é o político para o Brasil. Porém, sempre mantemos esses sentimentos contidos. Quando temos certeza que estamos ali para registrar a história e que temos uma responsabilidade enorme com a realidade dos fatos, não podemos demonstrar o que estamos sentindo. Neste momento deixamos nossas convicções e ressaltamos aquilo que o homem mais precisa na vida: a ética. 



3. Em uma entrevista à Associação Brasileira de Imprensa, você criticou o “armação no fotojornalismo”. Explica o que significa esse termo e como ele acontece hoje em dia. 

É a cena que o fotógrafo combina com o personagem e diz o que ele tem que fazer. Armação é mentira da realidade e falta de respeito ao leitor. Os preguiçosos armam para não ter o perigo de perder o que é o momento mágico do fotojornalismo. Momento esse que jamais será questionado pelo leitor ou mesmo por um participante fotografado. Aqueles que se acham mais espertos do que os outros  esquecem de que a ética está a cima de tudo na vida. Um bom fotógrafo é aquele que nunca vai ter uma foto questionada, mesmo que seja por quem não entenda de fotografia. Para uma boa foto é necessária muita paciência, sorte, a lente certa, informação e, o mais importante, ética. 


4. A tecnologia das câmeras se desenvolveu, os jornais se modernizaram e a própria imprensa passou por modificações ao longo dos anos. Nesse panorama, quais as maiores diferenças que você percebe entre o fazer do fotojornalismo de hoje e nos anos 80?? 

Não desfazendo da nova geração, que acho que tem verdadeiros fotojornalistas, mas eu faço fotografia sabendo que não vou errar na captação da foto. Antigamente sabíamos que tínhamos feito a foto, mas só na hora que era revelado o filme podíamos comemorar. Sempre tenho a certeza que consegui fazer a foto naquele momento mágico que não vai se repetir (Quem fez fez. Quem não fez não faz mais!). Trabalhávamos com lentes sem foco automático, sem motor para virar o negativo dentro da câmara e, o pior, com filmes que tinham, no máximo, 36 fotogramas. Quando vejo a nova geração gastando um cartào de oito gigas, e muitas vezes não conseguem uma foto, fico achando que é preciso estudar mais e perguntar mais. Aprendemos aos perguntar e ao estudar, e não apertando o dedo no obturador. Hoje é muito fácil fotografar, mas precisamos saber o que é noticia. Não podemos sair com uma câmara na mão como se fosse uma metralhadora giratória e achar que somos um fotojornalista. Por outro lado, acho que nossa vida de fotógrafo facilitou muito com as novas tecnologias, carregamos menos peso e temos a facilidade de publicar em várias plataformas. Ficou fácil, muito fácil. 


5. Além de registros de políticos brasileiros, algumas fotos suas com personalidades de outros países ganharam destaque, como a conhecida imagem de Hugo Chaves como Mickey Mouse. Você já teve problemas ou sofreu retaliação por algum registro? 

Acho que sou odiado por alguns políticos brasileiros, mas minha energia é muito boa e não sou atingido. Quanto à foto do Hugo Chaves, foi a foto que tive meus 15 minutos de fama. Dei entrevista para jornais espanhóis e fui acusado de trabalhar para a CIA. Ainda falaram que a minha intenção era denegrir a imagem dele. Piada!!!! 


6. Há alguma história curiosa para você contar em relação às coberturas políticas? 

Vou deixar para a palestra! Ou podem comprar o meu livro que escrevi JUNTO com meus irmãos que também são fotógrafos, Alam Marques e Sergio Marques: “CAÇADORES DE LUZ”. 


7. Você consegue escolher uma foto preferida entre todos os registros que fez até hoje?

Sem dúvida, a comemoração dos 500 anos do Brasil, com o índio.




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